Era o amor garantido, de noites em frente a TV, comida
pronta todos os sábados, pernas entrelaçadas no sofá. Aquela relação que não
permitia mudanças, mas gerou resultados: uma mulher insatisfeita, incomodada,
esmagada. E um homem que cego pelo comodismo só abriu os olhos quando foi
deixado para trás.
Luiza tentou avisar, com os olhos apagados ao aceitar tantas
vezes as saídas sem avisar, os jantares intermináveis regados à explicações
sobre suas ausências.
“ Paulo estava cansado”
“ Acho que ele trabalhou até mais tarde”
Mas foi o cansaço dela que abandonou a cama onde ele passou
a se ver pequeno diante do espaço que brigava com seu corpo. Foram suas
tentativas vazias de se aproximar de um homem fechado e orgulhoso de seu receio
de amar que deixaram apenas um prato na mesa do jantar, o apartamento escuro
quando ele chegava do trabalho.
A partida de Luiza deu ao rosto de Paulo um contorno
amargurado, de alguém espantado com o sentimento ao qual se julgava imune. A
falta de Luisa o fez um estranho dentro de si mesmo, tendo que lidar com uma
realidade que não avisou a hora de sua chegada: sorrateira, não pediu licença e
nem permissão para tomá-lo de assalto, sem pena.
E quando ele achava ter se acostumado com os fins de semana
solitários, os frascos vazios dos shampoo que não tinha coragem de jogar fora a viu:
luminosa, com aquele sorriso de quem encontrou o próprio caminho. Disse um oi
como se cumprimentasse um velho amigo do ensino médio e um abraço que dividiu
seu coração ao meio.
Ansioso, a viu entrar no cinema com um grupo de pessoas que não
conhecia, os saltos vermelhos que ele adorava a decorar o chão branco do
shopping.
Linda, dolorosamente linda, sem ao menos reparar em Paulo com os
olhos a varrer os rostos que o observavam com pena, perdido a segurar o copo de
café que lhe queimava os dedos e a canção de Tom Jobim, tantas vezes sua favorita
a machucar seus ouvidos:
“ O que eu faço para te esquecer, Luiza?”
Amei!!!
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