Duas senhoras conversam perto de mim. Uma delas chegou aqui contando piadas, até me irritando com um bom humor que pareceu forçado. Em poucos minutos percebi: ele nada mais é que seu esconderijo.
Me senti mal por não evitar uma impressão errada.
Ela está sofrendo, o marido faleceu há pouco tempo, sua voz muda quando fala dele. Temo que vá chorar, receio me emocionar. Sua companheira de conversa é mais contida, séria ( e muito, muito bonita), acho que perdeu a sogra. Estão tomando remédios para as cada vez comuns dores na alma e contam isso com nenhuma autopiedade.
Só ouço as duas vozes e suas percepções da vida começam a me martelar o peito,elas têm a idade dos meus pais e por trás de seus vestidos modernos e rostos bem maquiados mostram a fragilidade diante do fim .Me olho em um dos espelhos e me pergunto
Queria ler o pensamento das outras mulheres que aqui estão: a que lê a revista feminina, a menina que mexe no celular, a moça da minha idade que trabalha. Será que só eu não consigo me manter alheia a vida se mostrando diante de nossos olhos e ouvidos?
Ah, essa ansiedade que não me abandona.
Por não esconderem seus pontos fracos admiro essas duas mulheres que mostram muita força ao lidar com as intempéries de suas jornadas. Nossa diferença de idade deve ser mais de quarenta anos e já caí tanto diante de dificuldades menores. A tristeza me vem em ondas, acompanhada de uma certa vergonha
Queria ir para casa.
Sou covarde, não sei lidar com nossa brevidade, com o fato de que somos todos feitos para acabar. Só as formas de lidar com o fim é que mudam. O sangrar é sempre e humanamente o mesmo.
D.SConsiglio
Nenhum comentário:
Postar um comentário